"Só um novo amor, pode a saudade apagar...."

Bateu sim!

 Bateu saudade.

A chuva fria bate  insistente no vidro da janela.
 Nem uma folha se move.
 O mundo parece ter se esquecido de respirar.

E na solidão de mim mesma, andei pelas ruas de minha infância.

Corri,

joguei bola,

subi em árvores,

cai e  cortei a língua com os dentes,

brinquei na chuva,

fiquei doentinha,

fiz árvore de natal com algodão e caixinhas de fósforo,

vi a árvore de natal pegar fogo antes de Papai  Noel chegar,

fiz roupinha de boneca,

estudei,

tirei sempre o primeiro lugar na escola,

declamei poesias nas festas,

cantei , para orgulho de meus pais ,

olhei  a vida através da cerca de nossa pequena casa,

não vi divisória entre o proibido e o permitido.

Senti cheiro de café,

de pão com manteiga.

Vi meu pai chegar da pescaria e senti o cheirinho do peixe frito.

Vi a carinha de cada irmão que eu, criança ainda, ajudava a criar.

Lembrei de cada sorriso,

de cada birra,

de cada doencinha,

de cada nariz sujo,

de cada machucadinho,

de panos amarrados nos cortes, como se fossem curativos,

de meu pai cobrando a tabuada,

de pezinhos que sujavam a casa que eu limpava,

de minhas brigas e cuidados com os, “um pouco menores que eu.”

Tenho entre 8 e 10 anos.

Volto à realidade.

Mas pq eu estive lá,

a saudade de mim agora é muito grande.

E as lágrimas vem aos meus olhos.

Gostaria de voltar e de lá nunca mais sair.

Queria de volta a sedução de apenas ser,

sem ter que me preocupar com grandes coisas.

Queria aqueles olhinhos a me olhar como se eu fosse grandona,

como se eu pudesse resolver todos os problemas do mundo.

Cresci e comigo cresceram as dúvidas.

Cresci ,

E comigo existe a constatação de que a vida nos prega peças e que muitas vezes não conseguimos realizar todos os nossos sonhos

Cresci e comigo está uma triste certeza de

que o amor mal cuidado, um dia acaba.

Pq antes de crescer eu pensava que amor era pra sempre,

que pais eram pra sempre,

que casamentos eram pra sempre,

que filhos ficavam com os pais pra sempre.

Aprendi que quem amava nunca faria seu amor chorar.

Tive que acordar e atentar para a dureza de que quase tudo o que pensei  qdo era pequena,nada é.

E aí  a gente sofre.

Mas  o tempo,

sábio como é,

coloca cada coisa no seu devido lugar , limpa nosso coração e o deixa sem nenhuma marca,

deixando-o pronto para permitir a chegada de um novo amor.

Nesta volta , senti uma saudade imensa dos meus pais, dos meus irmãos, da minha infância, da minha juventude, da minha faculdade, do meu trabalho, dos meus filhos pequenos.

E nesta volta eu me perguntei.

O que me resta hoje?

E  então veio a resposta:

Estou aqui.

Estou viva.

Tenho um coração que sabe amar e que tenho certeza um dia vai ser muito amado.

Tenho os filhos, tenho minha neta linda.

Tenho minha família.

Tenho poucos, mas especiais amigos.

Mesmo que eu esteja só, sei que eles estarão pra mim, se eu precisar.

Mas o amor faz falta.

Aquele amor que faz com que ,quem lhe olhe perceba que vc é feliz,

que vc está caminhando nas nuvens.

Aquele amor que faz vc sorrir do nada.

Aquele amor que faz seus olhos brilharem.

Aquele amor  que faz com que vc veja a chuva fria e persistente  não como uma coisa chata.

Aquele amor que faz com que vc não tenha medo da vida.

Eu tenho pressa!
Mas tenho os pés no chão.

Acredito que cada um tem a vida que escolhe, e bem por isto preciso mudar a minha e escrever a minha grande história com final feliz, modelo a ser seguido por meus filhos, parentes e amigos queridos.

Minha esperança é verde e sei que Papai do Céu está preparando pra mim, algo muito especial.

Sinto assim, pq ao dizer isto um sorriso largo se abre no meu rosto e um sol brilha aqui dentro do meu coração.

Um abraço carinhoso!